O tratamento nutricional a pacientes hansenianos: promoção de qualidade de vida
No último domingo de janeiro, dia 27, foi celebrado o Dia Mundial Contra a Hanseníase e, em 31 do mesmo mês, o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase.
As datas visam à conscientização sobre a doença, que é infecciosa e contagiosa. Estas são duas das características que fazem com que as(os) nutricionistas, como profissionais da Saúde, tenham papel importante na prevenção. Mas o tratamento nutricional, junto com outros cuidados de uma equipe multidisciplinar, auxilia na qualidade de vida destes pacientes.
Para ilustrar o papel da(o)nutricionista, iremos apresentar o trabalho de duas profissionais que trabalham em unidades de hansenianos.
Patrícia Tavares dos Santos (CRN9 10.255) atua há 10 anos na Casa de Saúde Santa Fé, pertencente à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), no município mineiro de Três Corações. Também da Fhemig, conversamos com a nutricionista Sheila Cristina Toledo Andrade (CRN 1509), que trabalha na Casa de Saúde Padre Damião (CSPD), o antigo “Leprosário Padre Damião”, criado em 1945 na Rodovia Ubá/Juiz de Fora.
“Acredito na importância do estudo e da atualização do profissional de saúde para atender com qualidade a população, cumprindo o desafio de mostrar a todos os benefícios de uma alimentação saudável”. Assim Patrícia resume sua escolha no tratamento dos hansenianos. E complementa: Apesar de não ter uma diretriz nutricional específica para os pacientes acometidos pela hanseníase, a nutrição é muito importante no tratamento. A medicação utilizada pode levar à anemia, aumento da glicemia, da pressão arterial e também pode afetar a absorção de nutrientes como ferro, cálcio e zinco. A promoção da alimentação saudável e a adequação das necessidades nutricionais melhora o estado nutricional, a resposta imunológica e a qualidade de vida destes pacientes. ”
Para Sheila, estar com este tipo de paciente é uma missão de vida: “dar assistência nutricional a pessoas que, no passado, foram retiradas da sociedade. ”
Preconceito atual
Conhecida como “a doença mais antiga do mundo” – é citada inclusive na Bíblia Sagrada -, a hanseníase ainda traz consigo alguns estigmas, sobretudo relacionados a contágio. Sempre é tempo de esclarecer:
– A doença também é conhecida como lepra, morfeia, mal de Hansen ou mal de Lázaro. É causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que afeta os nervos e a pele.
– O Brasil ainda tem índices de ocorrência alarmantes, com 2,7 acometidos a cada 10 mil habitantes. A eliminação da doença é uma meta para as políticas de saúde pública no país.
– Provoca, na maioria dos casos, manchas de coloração mais clara que a pele ao redor, podendo ser discretamente avermelhadas. Nos locais afetados, o paciente perde a sensibilidade ao calor e ao frio, diminuindo também a sensação de dor.
– É uma doença contagiosa, transmissível por secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro. Mas a pessoa acometida deixa de transmitir a doença assim que inicia tratamento regular. Não há necessidade de confinamento do paciente.
– O tratamento se dá através da associação de antibióticos, durando entre 6 e 24 meses, dependendo da gravidade da doença.
– Quando não tratada, a doença pode causar incapacidades ou deformidades.
O doente era considerado impuro enquanto durasse sua doença e deveria viver separado. As marcas deixadas no passado pelas ações profiláticas segregacionistas aos quais foram submetidos os portadores de hanseníase, assim como seus familiares, põem em dúvida as convicções quanto à sua terapêutica e a forma de infecção até a atualidade.
O estigma e o preconceito associados à hanseníase fazem parte da sociedade há vários anos, deixando consequências devastadoras na vida do indivíduo, principalmente para aqueles que, ainda que curados, apresentam sequelas físicas.
“Apesar do tratamento atual e do declínio no número de casos, a hanseníase ainda é uma doença que gera bastante preconceito, receios e medos nos pacientes, talvez pela falta de informação sobre a doença, pelos efeitos colaterais das medicações e pelas deformidades associadas”, informa Patrícia. A profissional relata como exemplo do sofrimento vivido por estes pacientes, a separação dos filhos, antigamente, para que os mesmos não fossem contagiados.
As casas de saúde
A Casa de Saúde Santa Fé (FHEMIG) foi inaugurada em 12 de maio de 1942, em Três Corações, com a finalidade de abrigar e cuidar das pessoas acometidas pela hanseníase na região sul de Minas Gerais. A internação destas pessoas era compulsória, levando a uma traumática e definitiva separação dos familiares. Em 1962, a mesma deixou de ser obrigatória e o número de novas internações foi diminuindo com o tempo. Porém, mesmo extinta a internação obrigatória, a grande maioria dos pacientes optou por permanecer nas colônias, pois necessitavam de assistência à saúde devido às sequelas da doença.
Com o avanço das pesquisas sobre a hanseníase, o tratamento passou a ser ambulatorial e os “hospitais-colônias” utilizaram suas estruturas para diversos serviços abertos à população do município e da região. Hoje, a Casa de Saúde Santa Fé, mantém 53 pacientes na Linha de Cuidado das Pessoas Acometidas pela Hanseníase.
A Casa de Saúde Padre Damião (CSPD) – localizada na Rodovia Ubá/Juiz de Fora, km 06, no município de Ubá, a 300 km de Belo Horizonte – foi criada em 1945, com a denominação de “Leprosário Padre Damião”, em homenagem ao belga Jozef Damien De Veuster, nome de batismo do Padre Damião. A CSPD era vinculada à Fundação Estadual de Assistência Leprocomanial (Feal) e foi integrada à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) em 1977, ano de sua criação.
A CSPD tinha a missão de prestar assistência às pessoas portadoras da hanseníase, em regime de segregação social, de acordo com as diretrizes da época.
Hoje, a CSPD é um centro de referência em atendimento à hanseníase e presta serviços de saúde aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) da microrregião de Ubá, por meio da regionalização da unidade, com qualidade, humanização e resolutividade, garantindo a reabilitação em nível de complexidade secundária. Além disso, é uma unidade regionalizada de referência em Fisioterapia e Reabilitação, com prevenção de incapacidades, e assistência em Geriatria a pacientes fora de possibilidades terapêuticas.
(Fonte utilizada: Sindicato dos Empregados em Instituições Beneficentes, Religiosas e Filantrópicas do Estado de Minas Gerais – Sintibref-MG)
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